quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Nossa Senhora da Conceição da Praia

07 de dezembro de 2009.
Após uma semiaula de semiótica estávamos nós lá, novamente esperando o tempo passar. Não havia nada que nos prendesse ali, mas, como sempre acontecia, a conversa fluia e nos achávamos como em
"O Anjo Exterminador" (1962), onde os personagens inexplicavelmente não conseguiam sair da mansão em que se encontravam. A nossa mansão era a Facom e, lembrando que realmente eu não podia me deixar ficar, relatei meu motivo - parece que essa era a chave para que as portas se abrissem, já que aquelas pessoas não admitiam que alguém se fosse sem um motivo plausível. Comuniquei que iria a um posto de saúde a certa distância tomar Bezetacil. Após comoção geral e alguns grunhidos de "ó, que pena!", cada um fez considerações sobre a injeção, sanei algumas dúvidas e acabei mostrando a maldita - em pó e líquido!
Pois bem, consegui liberdade e segui com Sara em direção a Av. Garibaldi. Em poucos minutos de espera o ônibus Lapa (da linha Nordeste-Lapa) passa. Fico feliz ao ver muita gente entrar no ônibus, pois para mim isso é sinal de que ele demorou de passar, o que significa ainda que se eu tivesse chegado a dez minutos atrás teria ficado um pouco mais de molho. Quando isso acontece costumo ficar um pouco mais contente, o que leva a crer que a dor da injeção causará menos estresse. Às vezes essa fórmula matemática é válida.
Mas a dor dessa vez não existiu. Após saltar do ônibus e atravessar três pistas movimentadíssimas sob um sol de dezembro, descubro que o posto não abriu nesse dia.
- Só quarta-feira.
- Sério?!
- É.
Então algumas sensações se misturaram. Em primeiro lugar, culpei a desorganização da cidade - aliás, eu sempre culpo Salvador. Tudo bem que dia 08 seja feriado municipal - mesmo que um estranhíssimo feriado de Nossa Senhora da Conceição da Praia (?) -, tudo bem que o governador decrete ponto facultativo para a segunda-feira dia 7, mas fechar posto de saúde por conta disso já é apelação! A segunda sensação foi a de alívio, já que escapei de tomar a injeção. Ri ironicamente, mas logo veio a raiva, ou melhor as raivas: raiva por ter perdido tempo, raiva pelo feriado estúpido, raiva por ter gastado dinheiro com passagem etc.
Logo só me restou voltar humildemente para o ponto de ônibus. Sei que o Nordeste não demora de passar, mas fico atenta em meio a uma avalanche de veículos. Como o período entre minha saída e retorno ao ponto foi muito curto, é possível que eu pegue o mesmo ônibus em seu retorno. De início a idéia não me agrada, já que cobrador e motorista podem reconhecer-me e talvez inferir que estou perdida. Eu não estou, de fato. Removo então tal bobagem de minha cabeça tímida, julgando que a pressa faz com que ninguém dê muita importância a vida alheia e, que se isso acontecesse, seria um fato muito pequeno para afligir-me.
Entrei no mesmo veículo, mas o cobrador realmente não me reconheceu. Quando o meu Salvador Card não abriu passagem na catraca e notificou que eu deveria "esperar intervalo mínimo", ele pareceu impaciente. Fiquei meio envergonhada, meio irritada e meio sem entender.
- Você pegou esse carro agora?
- Aham...
- Vai ter esperar...
- Qual o intervalo mínimo?
- Doze horas.
- Sério?! Quer dizer que alguém tem que esperar tudo isso pra voltar pra casa? - ri debochadamente
- Tô te dizendo... se pegou esse carro às 10h só pode pegá-lo novamente às 10h da noite. Pode pegar qualquer outro da linha, menos esse.
- Ahhhh...
O ônibus já se movimentava e eu continuava ali, sem saber o que iria acontecer. O cobrador, após passar seu próprio cartão na máquina, conseguiu destravá-la. Agradeci e em dez minutos estava na Av. Garibaldi. Fui andando até minha casa sob um sol escaldante. O calor em Salvador tá terrível! Acho que estamos precisando de uma chuvinha... Espero que Nossa Senhora da Conceição da Praia nos conceda essa graça.

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