sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Esses dias














Esses dias têm passado devagar,
observo o andar das nuvens,
passo horas deitado,
pensando,
imaginando situações,
criando diálogos possíveis que nunca acontecerão.

Ela está sempre aqui,
a meu lado.
Sinto-a por completo,
olho-a incessantemente,
refugio-me nos seus braços.

São dias quentes,
a roupa insiste em não ficar no corpo,
banhos e mais banhos é a rotina que se faz.

Nesses dias tenho estado feliz,
uma felicidade exacerbada,
aquela de sorrisos largos,
de agitação,
uma felicidade insurpotável.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Último sopro de vela















Falta luz,
a sombra dos corpos que passam,
dançam nas paredes escuras
e a chama das velas que queimam,
iluminam o ambiente pequeno.

Pouco posso ver,
daqui onde estou, claramente vejo o fogão,
a geladeira e um rato que caminha calmamente
por sobre uma prateleira.

A casa está vazia,
aqui, apenas eu, sozinho,
deitado na cama do andar de baixo
observando o espetáculo soturno,
de um suspense horripilante.

Um silêncio repentino invade a rua,
os homens que tocavam samba foram embora,
os cachorros devem estar escondidos amedrontados,
ouço apenas um pingar de gotas na pia no banheiro.

Sinto o fim daquela vela,
em poucos minutos irá sucumbir a nada mais que um monte de cera.
Quero ver tal cena,
a última gota de cera derretida escorrerá,
um sopro de vento fino apagará a chama,
liberando sua fumaça negra,
libertando aquele último suspiro quente.

Não consigo chegar até tal momento,
durmo por cima dos braços,
durmo poucos minutos,
o suficiente para perder a esperada cena,
quando acordo,
a vela já está apagada
e a luz acesa novamente.

Vai homem

Vai homem!
Seja de vez lembrado,
deixe seu rosto marcado
nas almas daqueles que te olham torto.

Vai homem!
Faça sua única façanha memorável,
seja capa dos jornais do próximo dia,
tenha sua história contada entre lágrimas nos programas matinais.

Vai homem!
Deixe de lado a covardia,
vamos, acelere esse passo,
suba o último degrau.

Vai homem!
Abra a porta para a cobertura,
abra a porta para os céus.

Vai homem!
Sabe o que te espera,
acredita que o inferno está lá,
lá embaixo.

Vai homem!
Tome coragem agora,
deixe o ar ir embora,
cante seu último suspiro.

Vai homem!
Acabe de vez com essa maldita angústia,
liberte sua vida dessas amarras sujas,
apenas dê mais um passo.

Vai homem!
Encontrar seu destino nas nuvens,
se fazer celebridade em um segundo
e em dois dias se esvair como um pensamento de um bebêdo!

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Hoje a noite tem luar
















Hoje a noite tem luar,
Tem céu estrelado
E algumas nuvens.

Um vento frio me faz pensar duas vezes
Antes de chegar na varanda.

A porta está fechada
E a janela aberta.
Os pensamentos estão livres
E vagam pelo quarto,
Fugindo de mim.

Hoje a noite tem luar,
Mas continuo sem ela.

Avulso



















De porta em porta,
De beco em beco,
De rosto em rosto,
Em cada sombra,
Em todo beijo,
Em olhos negros.
Nossas canções
De poucos versos,
Minha paixão.
A inspiração,
Em tortos passos,
Em tortos chãos.
Aviste a parede,
Mãos para o céu,
A salvação.
E quem espera,
O deus que volta,
De coração.
Espera tanto,
A morte chega,
Cerra o caixão.
Esperançosa a alma cega,
Vai sem caminho.

Dance comigo,
Oh! Linda dama!
A velha canção.
Sonhe comigo,
Sonhos ardentes
De uma noite de verão.

Em cada estrela,
Existe uma flor,
Em cada flor,
Um mundo se cria,
Em cada mundo,
O perfume se espalha,
Em cada perfume,
Seus olhos se abrem,
Em cada olho,
Uma boca se avista,
Em cada boca,
Um sorriso é dado,
Em cada sorriso,
Vejo o brilho das estrelas.

E agora, o que será?
E agora José,
O que será que será?

Os rostos nas portas dos becos,
Não sorriem.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Um homem que bebia

Cambaleva sorridente,
era o melhor amigo de Deus e do mundo,
seu nome ninguém sabia,
aparecia nas noites,
ninguém sabia o que fazia durante o dia.

Era um homem de coração bom,
cismava em apertar minha mão.
Eu era apenas uma criança,
tinha medo de bebida,
meu pai dizia que ele não tinha família,
era um solitário.

Poucas vezes o vi sóbrio,
ele não me reconhecia,
ou tinha vergonha daquele estado em que constantemente ficava,
passava direto,
eu o chamava,
ele olhava e respondia como a um desconhecido.

Por muitos anos o vi perambulando pelas ruas,
a Boca do Rio inteira era sua casa,
fui crescendo,
chegou a adolescência e o homem ainda por ali,
com sua felicidade engarrafada.

Cheguei a juventude,
ele sempre que me via comentava sobre eu ter crescido,
perguntava pelos estudos,
cumprimentava meu pai,
e seguia seu caminho.

De repente o homem sumiu,
por tempos não o vi,
perguntava quem o tinha visto ultimamente,
ninguém poderia saber,
ele não tinha ninguém.

Por vezes me lembrava dele,
quando passava por algumas ruas que era certo encontrá-lo,
o homem deixou uma vaga lembrança,
que foi-se diminuindo até um esquecimento profundo.

Hoje vi um homem cambaleando sorridente,
não pude não recordar dele.

Tarde com ela

Uma cama,
Dois corpos,
Namorados,
Sol lá fora,
Aqui beijos,
Tesão,
Vontades,
Bater dos corações,
Palavras no ouvido,
Suspiros...
Ah! Os suspiros!
Mãos passeando pelos corpos,
Desbravando a intimidade.
Cabelos no rosto,
Cabelos são armadilhas
Que prendem e não deixam sair.
Mas para que sair?
Carícias,
Pescoço,
Arrepios.
Línguas amarradas,
Língua até onde é possível imaginar línguas.
Tarde quente,
Suor,
Roupas se perdendo,
Cama se desfazendo,
Corpos fervendo,
Embaraçados numa dança,
De passos improvisados,
E vários cenários.
A cama,
O chão,
A rede.
O prazer nos olhos,
O sorriso envergonhado,
O rosto vermelho,
A voz baixa,
Os suspiros altos,
O êxtase.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Meu canto

Eu ria,
ria descontroladamente,
perdia o ar,
girava e girava,
caía, levantava
e cantava!

O mundo não mais girava,
parado,
sem mais sons
e eu cantava!

Corria,
ia aos seus braços,
você fugia,
desviava o caminho,
agia como se não me conhecesse,
triste eu parava
e cantava!

Seguia o caminho do vento,
os perfumes que passeavam pelo ar
me hipnotizavam
e eu os seguia devagar,
cada movimento eu observava
e cantava!

Engana-se quem pensa que sei cantar,
mas feliz eu ia,
com a afinação torta,
dançando minha própria melodia,
até a esquina que alguém me esperava
e pra ela eu cantava!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Them Crooked Vultures


















Realmente estou perplexo! Ouvi hoje uma obra prima da música. O nome da banda é Them Crooked Vultures, banda estadunidense formada por nada mais nada menos, que três super músicos, que marcaram a história do rock n' roll, são eles Dave Grohl (Nirvana e Foo Fighters) na bateria, John Paul Jones (Led Zeppelin) no baixo e Josh Homme (Queens of the Stone Age) na guitarra e vocal.
O estilo musical deles passeia pelos variados estilos adotados pelas suas bandas, vê-se bem marcante características da Queens of the Stone Age em várias músicas, como a New Fang e Dead End Friends, percebe-se os riffs comuns a banda, e a bateria de Grohl como ele mesmo já havia tocado antes com Hommes.
Não se poderia montar uma banda com um integrante do Led Zeppelin sem que essa não sofresse enorme influência dessa que foi uma das maiores bandas da história. Na Elephants, Homme usa sua guitarra de uma forma que com certeza agradou o mestre Paige. Ele desempenha muito bem o papel de único guitarrista da banda, que surpreende ainda mais na música psicodélica que me fez lembrar os bons tempos do rock, Interlude With Ludes.
O seu vocal torto em algumas músicas, junto com a psicodelia de sua guitarra, com arranjos muito bem feitos, o baixo de Jones e a bateria de Grohl, completam essa banda que aparece num momento em que a música não mostra nenhum novo grande lançamento, além das mesmas bandas com a mesma proposta de sempre, música feita por adolescentes "bestas" para adolescentes "bestas".
Quem sabe as nossas crianças que estão começando a gostar do bom e velho rock n' roll, venham pra esse lado da força.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Dias Vermelhos



Com você os dias azuis ficam mais vermelhos
Como num domingo amarelo
Às cinco e meia da tarde.

Como num domingo amarelo
Às cinco e meia da tarde,
Você transforma o meu azul
Em amor


Foto: Line Santana

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Onde está a chuva?















Nessa cidade
não se pode mais andar,
o sol me queima,
o suor escorre,
e as pernas cansam.


Eu vou pelas ruas,
caminhando calmo,
torcendo por chuva,
olhando por céu,
me cegando com o sol,
procurando alguma nuvem.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Uma manhã de terça-feira



















Queria chorar sua falta,
dançar na rua gritando seu nome,
ver você em todas as esquinas,
ter pesadelos com você,
acordar suado ao seu lado,
soprar o suor do seu pescoço,
e deixar a noite cair sobre nós,
antes de você fugir de mim.

Queria te achar nas minhas linhas,
brincar com seus cachorros imaginários,
até você desaparecer de novo,
por entre as ruas da cidade,
pelos cantos escuros da minha mente,
antes de voltar a seu mundo.

Queria comprar presentes,
os mais variados presentes,
embalados em papel de presente coloridos,
em caixinhas que você guardaria papéis,
papéis que eu te daria,
com algumas poesias.

Queria te fazer carinho,
matar a saudade com um beijo demorado,
um abraço apertado
e um suspiro apaixonado.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Você é uma árvore?



Fim de ano chegando, e o que você fez? Conheceu o amor da sua vida, casou-se, estabilizou -se emocionalmente? Ou perdeu quem acreditava que era sua alma gêmea e sofreu horrores? Buscou insaciavelmente quem não te queria ou esnobou quem é doido por ti?
Você fez a viagem perfeita, encontrou o livro que fará parte da sua vida, assistiu ao filme que marcará sua existência e fez a maior loucura (aquela que contará para seus netos)? Ou não: continuou em casa, só leu o que todo mundo leu, assistiu aos filmes mais clichês (e chatos) e só fez o que as pessoas acharam que era melhor?
Ouviu música ou dançou pagode? Foi ao teatro ou ficou vendo novela? Conseguiu falar o que queria ou entrou no quarto e se lamentou? Riu por bobagens, chorou por idiotices? Teve overdose, de tristeza ou alegria? Teve fé? Passou no vestibular? Descobriu um dom? Parou de fumar? Acreditou no amor? E no ódio?
Conheceu amigos inseparáveis? Reconquistou os que achou que havia perdido? Ou perdeu aquele seu amigo de infância por motivos infantis? Você perdoou? Vingou-se? Realizou boas ações?
Compôs uma música, escreveu um poema ou um romance? Plantou uma árvore? Você é uma árvore?
Sim, nos comportamos como árvores quando não nos decidimos por nenhuma das opções, quando não fazemos nem deixamos que façam, quando... Não vivemos! Porque viver é conseguir ser autor da sua própria história, é achar que valeu a pena.
Creio que pra mim valeu a pena, mas prefiro lembrar dos dissabores porque sou pessimista e dou maior ênfase às “tragédias”. Às vezes ser triste é uma escolha não muito ruim, gente feliz é chata e me aborrece.
Então, naquela sua lista de “coisas que fará em 2010”, coloque como item principal: não me comportarei como um vegetal. Isso, por si só, resume todos os outros itens.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Ano novo















Nessa noite eu chorei...

...chorei até dormir.

A janela aberta [curta]

Vagava eu hoje pelos confins da internet, quando acho algo que me surpreendeu bastante, um curta. O nome dele é A janela aberta de Philippe Barcinski, com uma atuação impecável de Enrique Diaz. Estarei aqui no papel de um admirador e farei um comentário mais leigo possível acerca desse curta. Admirado fiquei quando o assisti e admirado continuo até agora, enquanto escrevo isto. Com uma fotografia das mais envolventes, uma aura negra cobre o filme com a sua escuridão, que nos envolve ainda mais nos sentimentos angustiantes do protagonista, junto com a sua trilha sonora que também nos proporciona essa sensação de angústia, onde gradativamente vai acelerando, ficando mais intensa ao se aproximar do desfecho da trama.
A continuidade do filme é ótima, seus cortes são perfeitos e a disposição das cenas não podia ser mais precisa.
Não é um filme recente, data de 2002, mas após essa magnífica experiência que tive ao assisti-lo pela primeira vez, não pude não comentá-lo.

A janela aberta - curta

Identidade

Estou morta!
O meu corpo não me pertence mais,
O perdi para a indústria.
Perdi minha alma,
Perdi minha calma,
Agora estou nua.
Estou como nasci,
Crua.
Minha pele já não é mais pele,
É farsa.
Minha pele é tecido,
É pano,
É animal.
Minha cor já não é a minha,
É a que me dizem ser,
Minha cor não tem cor,
Sou preto e branco
Sou vazio.
Busco em tudo o eu,
Busco em tudo algo que posso ser.
Busco a melhor forma de ser,
Mas não sou.
Finjo ser o que não sou.
Começo a esquecer a minha verdade,
A deixar para trás a minha identidade,
Já não sou mais a mesma.
Os meus olhos já não agüentam mais...
E pesam
E caem
E fecham
E não mais abrem.
Aproveito a minha morte para renascer,
Agora posso ser o que eu sou de verdade,
Ter a autenticidade que não pode ser roubada.
Sou mulher,
Sou forte,
Sou bela a minha maneira.
Não trarei beleza pelos cortes,
Não serei escrava,
Sou livre pra ser
E serei...
Livre.