quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Meus olhos famintos



famintos, meus olhos te devoram,
engolindo em suas íris teus pedaços
refletidos nas retinas em cores vivas,

e não pisco; não posso piscar,
e arriscar perder por um segundo sequer
a imagem que a minha fome tanto quer
para se saciar.

Rato



reino sobre as casas dos meus;
não, eu não sou deus,
sou rato.

Vidro fumê



o vidro fumê
não impede que nos semáforos as crianças cheguem à sua janela e te peçam:
- tio, dá um real pr'eu cumê.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Nas noites cinzentas


nas noites cinzentas
enevoadas por milhares de cigarros acesos,
as ruas se perdem
entre si

por dentro dos becos
crianças correm esvoaçadas
como se não existisse a fome que nos cerca
e sorriem ao me ver passar

em suas brincadeiras o bem sempre vence o mal;
sinto, então, que ali há a pureza
que tanto nos falta
e sorrio de volta

tantas luzes acesas
não são capazes de sobrepor a escuridão do ar
embebida pelo medo
do desconhecido
e do caso acontecido
noticiado pelos jornais.

não encontro em parte alguma de meu coração
qualquer que seja a sensação
capaz de me arrancar sorrisos em meio ao sono,
suspiros em madrugadas
e sonhos em tardes cansadas,
como o deitar ao lado seu,
o enlaçar de nossas pernas
bambas pelo fulgor exacerbado
do intenso amor extasiado
que dividimos diariamente.

Desktop


meus papéis,
não mais avulsos,
são digitais;
não mais se perdem os versos de meus poemas
por entre folhas rabiscadas de algum caderno velho,
hoje digito tudo o que sinto
e salvo no desktop.