domingo, 25 de abril de 2010

Conforto e solidão

Deixe-me só,
Finja que não existo.
Só por uns minutos,
Deixe a luz apagada,
E a música tocando.

A escuridão se mistura a fumaça de um cigarro aceso,
O hábito não é mais vício,
É meramente inspirador.
As metáforas são mentiras,
Exaladas pela falta de um ventilador.

Me conforto nessa solidão,
Na espera talvez do telefone tocar
E do outro lado uma voz doce me falar.
Mas a ligação não vem,
O tempo passa,
E os versos saem,
Sem qualquer pudor,
Sobre qualquer coisa.

Eu vejo

Pela fechadura eu vejo,
Eu vejo o outro mundo,
Eu vejo a luz,
Eu vejo a paz,
A paz de espírito
E descanso.

Pela janela eu vejo,
Eu vejo a vida,
Eu vejo a lua,
Eu vejo a rua,
Os que passam
E durmo.

Pelos óculos eu vejo,
Eu vejo palavras,
Eu vejo versos,
Eu vejo poesia,
Algumas são minhas
E sorrio.

Pelas nuvens eu vejo,
Eu vejo as estrelas,
Eu vejo aviões,
Eu vejo morcegos,
Sedentos por comida
E me escondo.

Pelas ruas eu vejo,
Eu vejo o dia,
Eu vejo a noite,
Eu vejo quem me olha,
Todos os dias
E sonho.

Versos adultos (Oposição aos versos infantis)

Quero senti-la por completo,
Saborear seu sumo,
Sentir seu gosto.
Ah! Seu gosto!
A maior exibição da existência de um Deus,
Um Deus não-cristão,
Um Deus impuro,
Lascivo e pecaminoso!

Quero servir-me de seu corpo,
Como em um banquete,
Comer-te por inteira,
Saciar-me em sua boca,
Vê-la sorrir pelo desejo que a invade.
Tudo o que quero
É amar-te um amor selvagem!

Versos infantis III

Guardei esses versos para presenteá-la,
Por tempos foram esquecidos,
Na última folha de um velho caderno,
Rabiscados com um lápis,
Riscado em algumas linhas,
Colorido em minha mente,
Engasgado na garganta
E expelido em alguma noite que não me recordo.
Nunca me recordo.

Versos infantis II

Sonhei com ela,
No sonho ela era minha.
Me apaixono novamente a cada dia
E a cada paixão uma nova vida.

sábado, 24 de abril de 2010

Versos infantis

Gosto de fechar os olhos
E pensar nela.
Gosto de sentar
E ouvi-la falar.
Às vezes não consigo
Parar de olha-la.
E quando ela me olha
Só posso sorrir.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Sol da manhã

O sol bateu no rosto negro escondido na sombra da parede do quarto
E me acordou.
Esse rosto é meu.
Quem do meu lado estava já havia despertado,
Se espreguiçava demoradamente,
Seus cabelos pendiam sobre a face avermelhada
Escondendo os olhos, ainda fechados, da luz que cegava.

Seu rosto veio a mim,
Procurando abrigo contra a luz.
Aqui, escondidos do sol,
Nossa manhã virou noite.

Nos desprendiamos em movimentos curtos,
Um tanto lentos,
Virando nossos corpos um sobre o outro,
Sonolentos.

O vento começou a balançar a rede do lado de fora,
As roupas batiam contra a parede,
Os passos aumentavam,
Aos poucos a casa ia despertando,
O mundo ia despertando
E nós ali...
Como se não fizessemos parte,
À margem.
Para nós a vida começa quando o silêncio reina,
Por isso ficamos ali,
Esperando o mundo passar por nós,
E então nos levantarmos,
Saudando a natureza que nos brinda.

domingo, 18 de abril de 2010

Diga a ela que fui passear

Vai papel ao vento
E diga a ela que fui passear,
Pelos vales do mestre do tempo.
Que nenhuma alma viva ousou passar.

Deixe por conta dos libertos,
Bradar aos quatro cantos,
A minha fuga.

E assim, dispersos,
Os guardiões do templo,
Correrão ao mestre
E ajoelhados diante deste, suspirarão.

Diga a ela que voltarei,
Para que me espere,
Imaculada.
Em seu leito espere deitada,
Que a retirarei na minha volta.

sábado, 17 de abril de 2010

Um pouco sobre ela

Partiu de dentro de mim essa novidade,
Esse descontrole desenfreado,
Uma descontinuidade de pensamentos avulsos,
Embalados pelo descompasso do bater do coração,
Que batuca adoidado,
Uma canção de amor do Arnaldo, o Antunes.

Começou como uma simples sonoridade,
Uma voz ao longe,
Como um canto de sereia,
Hipnotizante.

Mudou para um olhar,
Que me sorria ao brilhar.
E eu pulava, espamava.
Me sentia um livro aberto,
Prestes a ser engolido por aqueles olhos.

O que eu mais queria era ser engolido,
Mas como sou um tanto polido,
Meu maior pedido,
Foi um beijo no ouvido,
Seguido de um estalo e um arrepio.

E de longe vem ela,
Com aquele contorno magestoso
E passos que paressem levá-la ao paraíso.
A luz do sol,
O vento,
As gotas d'água que voam dos irrigadores,
Parecem efeitos manipulados pela natureza,
Para que sua beleza,
Já tão exaltada,
Livre nossa mente de todos os horrores.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sonhar poesia

Sonhei que era um poeta barroco
E escrevia-te sonetos com meus decassílabos
Bem rimados,
Rimas ricas, devo dizer!
Nesses sonetos apaixonados.

Sei que gosta das poesias bem feitas,
Que as palavras te encantam
E por toda noite sonha com elas.
Durmo com os belos poemas que nunca farei,
Para estar nos seus sonhos
E quando eles se tornarem realidade
Estarei eu aqui.

Agora, aqui no meu canto,
Com meu papel e minha caneta,
Não sou mais aquele grande poeta,
Nem o seu sonho.
Agora, sou cru,
Sou o eu, como eu sou.
O pequeno menino metido a poeta.

Foi bom sonhar poesia,
Sonhar você.
Te poetizar em meus eternos versos,
Te eternizar em meus poéticos inversos,
Te amar numa eternidade de uma noite.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Canto do mar

Ouço o assobio do vento,
Cortado por dentro
Por um avião que já pousa,
Que vem de lá longe,
E tranquilo ele voa,
Como uma calma fuga,
De toda essa chuva,
Caindo sobre o mar,
Dançando com a canção que ela ecoa.


Sim! O mar canta!
Canta os acordes da canção que a chuva traz.
Dançando pelo ar com o frio que hoje faz,
Formando uma onda que nas pedras bate,
No silêncio em que a praia dorme.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Confissões de um bêbado antes de acender um cigarro

Hoje é o melhor dia de minha vida!
Sim, o melhor.
Nunca houve dia como esse,
Veja só como esse sol brilha,
Olhe aquelas crianças,
Como correm!

Daqui vejo tudo,
Desse mesmo degrau já vi muito acontecer.
Estava aqui bem antes desses degraus,
Antes desses pedantes que teimam em me tirar daqui,
Antes dessas crianças,
Antes dos pais dessas crianças serem crianças.
Estou aqui desde sempre.

Na minha boa época vivi aqui coisas boas,
Dos melhores uísques eu bebi,
Hoje esse álcool com açucar me satisfaz.

Confesso que não sou feliz com o que me tornei,
Olhe meus amigos,
Poucos deles restaram,
Conto nos dedos os que daqui saíram e não voltaram,
Esses não são mais amigos,
Eles não me conhecem mais
E não contesto esse fingimento.

Ah! Meu caro,
Aqui vejo a tristeza do mundo,
O mundo é triste pela madrugada,
Junto com a luz do sol,
Vai-se a tristeza
E fica o receio,
Os olhares assustados a qualquer passo mais apressado,
Aqui, a vida não tem rumo,
Não tem destino,
Não tem dono!

Deus esqueceu-se da noite,
Nossa vida não é mais nossa,
É de quem quiser tirá-la a qualquer momento,
A minha vida há muito que perdi,
Ou a troquei por qualquer centavo que me enchesse o pensamento.

É meu amigo,
A beleza aqui não é bem-vinda,
Continue escrevendo suas linhas sobre coisas que não existem,
Enquanto o dia finda.
Lá vem a escuridão,
Com ela o cavaleiro sem coração,
Um santo!
Não daquele que mata dragão,
Mas o que rouba alma,
Em cada noite calma de verão,
"Limpando" a rua da nossa poluição.

É hora de ir embora meu caro,
Acenderei o meu cigarro
E enquanto fumo
Não sou muito de papo,
Então sigo o seu rumo,
Até sua cama em seu quarto
E veja no dicionário do seu computador,
O que significa a vida.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

"...E o vento levou"

Olhe o céu,
Aquelas nuvens que sorriam
Hoje se fecharam,
As estrelas que falavam
Hoje se calaram.
É um dia triste,
Um bom dia para ser ignorado,
Conceda-me essa dança e te contarei mais.

Minha querida,
A guerra já acabou,
Sinto pelo seu marido que lá ficou,
Deixou sua marca e não voltou,
Sua aliança não te serve mais,
Seu luto não te serve mais,
A pobreza e o desespero, agora, são seus maiores rivais.

Não consigo parar de amá-la,
Seus olhos azuis movendo-se de lado a outro,
Sua pele branca
E essa boca vermelha...
Ah! Essa boca!
Deixe-me beijá-la,
Como homem algum já a beijou!

Ah! Querida!
Não posso para sempre esperá-la,
Preciso fazer algo com minha vida.
Decida-se!
Ou me quer agora
Ou vou embora!
Mas saiba que sempre a amarei
E um dia eu voltarei para buscar o seu amor.

O que é mais díficil para mim
É tentar ter um coração que sei pertencer a outro,
Mas peço que reflita
E pense,
O coração que quer para si
Já tem sua dona
E a honra e o amor que une aqueles dois belos corações
É maior que qualquer amor que pode nascer em você.

Mas como é linda!
Ainda não acredito como pode me amar,
Ás vezes acho que tudo não passa de uma ilusão,
De uma mentira!

Peço permissão para esquecê-la,
Irei embora agora,
E nada do que diga será capaz de trazer-me de volta!

"Amanhã é um novo dia"