domingo, 30 de maio de 2010

Há aqui

Há aqui cachorros que latem
E não me deixam dormir.

Há aqui vizinhos que falam
E se dirvetem por mim.

Há aqui crianças que gritam
E se perdem pelo imaginário jardim.

Há aqui meninas que pouco vestem
E passam o dia a sorrir.

Lábios

Esses seus lábios me lembram um doce que mascava quando criança.
Rosas e açucarados.
E também os mordo como mordia os doces.

Eu irei

Eu irei
Morto eu irei
Homem eu serei
No seio que eu sei.

Eu verei
Corpos eu verei
Tempo eu terei
Para voar e ser rei.

Eu terei
Sonhos eu terei
Outra vida viverei
No mundo que te dei.

Eu amarei
Ela eu amarei
Em todo lugar eu estarei
Como o rei que sei que serei.

A riqueza e o homem

O mapa está nas mãos,
Um passo pra frente, um passo pra trás.
O tesouro se aproxima,
E toda essa gente canta querendo mais.

O canto cessa e derepente
Toda aquela gente
Que me seguia, pára imóvel.

Os olhos fogem para o escuro do fundo
Da mente, tentando se esconder do mundo
Que os engole de forma calma e dócil.

O mapa se perdeu por entre
As mãos que me arrancavam o ventre
Que encolhia-se em dor sútil.

A riqueza cega os homens que enxergam
Nela sua própria ascenção e negam
A felicidade que o mundo propõe inútil.

E enfim se contagiam como se um vírus
Os destruíssem em bombas e tiros
Pela visão do olho que vê fútil.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

A chama da vela

A chama da vela dança,
Dança desritmada
Sua valsa contemporânea
De passos tortos
E delirantes.

A chama da vela segue
O vento que quase a apaga
E a faz tremer
Pavorosa de esvair-se em fumaça.

Agora fecho o caderno
Tiro os óculos
E olho a vela.
Sua chama é minha única luz.

Deito na cama,
Cubro meu corpo
E sopro a vela.
A um ponto na escuridão ela me reduz.

Noite na grama

Sob a fraca luz desta lua crescente
Sinto a liberdade que é minha por direito.
Sob todos estes olhares variantes
Não me sinto em julgamento.
E todos estes sorrisos que me rodeiam
São um tanto quanto inspiradores
                                                    [e úteis]
Para alimentar a minha fome de versar.

Noite de calor

Me beije,
Me morda,
Me arranhe,
Me jogue na cama
Me faça criança
E brinque comigo
Essas suas brincadeiras de cego amor.

Se vire
E revire os olhos com tantos apertos.
Minhas mãos passeiam
E cobrem seus peitos
Em meio a suspiros cheios de fulgor.

Esqueça o que já passou
E se case comigo!
Vamos para o México
Sermos bandidos
E vivermos da fúria, do sexo e do ardor.

Nossa lua de mel
Será nas Bahamas
Presos num quarto
Onde nossa cama
Será o palco do nosso show.

E a cada ato
Mil gritos!
Cada vez mais altos
Até seu orgasmo
Lindo e redentor.

Então voltaremos
À vida real
Extasiados!
Após tantos sonhos
Nessa noite de calor.

domingo, 23 de maio de 2010

Sobre o amor

Um só amor não pode durar uma vida inteira,
Pois uma vida inteira não é feita para um só amor.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Tragédia Diária

Agora a tragédia é diária,
Uma nova explosão a cada dia,
Toda noite uma estrela cadente,
As luzes apagadas e orgasmos.

No amanhecer o sol não nasce,
E um eclipse nos deseja bom dia,
Por trás da fina chuva que diariamente nos banha,
E se entranha em nosso lar.

Agora os versos são livres
E as rimas podem vir ou não.

A cada novos olhos, lágrimas,
E os corpos molhados
Cheios de lástimas,
Se entregam ao novo mundo.

Passagem do circo

Lá vem o palhaço a gargalhar,
De um lado ao outro
Vem caindo ao tropeçar.
Seu sorriso pintado
Enorme e imutável,
O deixa ainda em seu espetáculo.

E traz consigo a massa,
Que o segue a pular,
E assim dançando vão
À um novo picadeiro
Com os seus chapéus nas mãos.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Versos...

Essa seria a hora propícia
Para apertar o botão que desliga a vida.
Queria ser outra pessoa agora,
Uma pessoa que você quisesse que eu fosse,
Um outro alguém,
Diferente do que eu fui.

O homem que não conhecia o amor

E ele pulou...
O homem que não conhecia o amor.
De olhos fechados,
Pelo pavor
Do que ele via ao seu redor.

Para contar sua história,
Seria pertinente rimar
O amor que não sentia
Com a dor que o consumia.
Mas não o faço,
O homem era um poeta.

Ele sempre dizia
Que após sua grande obra
Nos deixaria.
E grandes obrar vieram,
De uma fonte que nunca se esgotou.
Não era um poeta
Que não sabe versar,
Como eu sou.

O admirava como um irmão,
Seus versos intensos,
Arrancavam de mim a solidão,
Salvando o que havia ainda de bom.

E agora se vai
Versando na queda,
Levando o fim da sua existência,
A um patamar de total exelência
Nunca antes vista
Em algum lugar.

Jardim

Extrato de flores,
Redoma de odores,
Vermelho de pétalas,
Por cima das dores,
Curando os amores,
Que matam as células.

Sentido perdido,
Caminho esquisito,
Ruas que não conheço,
Dum bairro querido,
Onde hoje vivo,
Com meu total apreço.

Extenso jardim,
Exalando jasmim,
Por cima do muro,
Que para mim,
É díficil, enfim...
Amolecer meu coração duro.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Observar o mar

Veja a beleza concreta que há na orquestra do mar,
Encantando com a sinfonia que as ondas fazem ao chegarem fracas à areia
Que vazia, dá lugar a uns poucos corpos,
Separados. Que observam outros corpos,
Molhados. Que se jogam sobre as ondas,
Cansados. E se olham entre si,
Interessados.

Parece outra realidade,
Diferente do mundo que passa por minhas costas,
Barulhento, sujo e cinza,
Cria-se aqui uma atmosfera nova,
Bela e ensolarada.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Bailarina

Que eu tenha a redenção
Dos meus sujos pecados,
Ao desejar o que não posso ter
E ao ter ao alcance dos olhos
Sua completude de um belo ser.

Traço os planos de uma mente louca,
Fazendo caminhos por sua roupa
E todos seus meandros,
Que aos poucos vou desbravando
Até seu íntimo suspiro,
De garganta rouca.

Leva-me e lava-me a alma,
Sem a calma púdica
De um abraço de esquina.
Deixe-me e dê-me as costas
Para que ao ir embora
Eu possa contemplar seu contorno de bailarina.
Sorria-me e faça graça
Envergonhada por alguma piada
Que ao te envermelhar transparece seu brilho de menina.

terça-feira, 11 de maio de 2010

"C'est à toi que je dois ces joies profondes"

Aprendo uma nova língua para ter mais maneiras de dizer te amo,
Para poder de novas formas exaltar tua beleza branca.
Cantar os versos certos das canções que não entendia,
Mas que eram belas desde sempre.

Quero ser como nos filmes,
Olhar nos teus olhos,
E com uma canção qualquer ao fundo
Dando a trilha desse momento,
Puxá-la para o mais perto possível de mim,
Para que nossos rostos se enquadrem nessa cena,
E nossas bocas se toquem,
Em meio às palavras soltas,
Arrastadas por entre os dentes;
"Comment pourrais-je vivre
Si tu n'étais pas là"

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Afonso Arinos

Que saudades eu tenho de minha gente!
Dos sorrisos largos,
Fugindo dos cachorros,
Por entre as árvores grandes.
Das mangueiras que alimentam os bois do vizinho,
Na olaria abandonada,
Que hoje faz turismo com quem vem de fora,
Pelo Rio Paraíba
Margem à margem.

Que saudade eu tenho daquelas redes,
Do quintal verde,
De grama rasteira para a bola correr
Até o portão longe,
Beirando a linha do trem.
A vida para quando o trem passa,
Todos querem ver a Maria Fumaça.

Que saudade eu tenho da viagem até lá.
Subir a serra,
Entre a neblina densa
E o frio congelante
Invadindo o carro,
Espalhado em lençóis
E corpos cansados.

A lembrança em algum tempo não mais haverá,
É mais fraca a cada passar de ano,
A cada ano que não vou lá.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Escuro do pensamento

Tenho medo de abrir os olhos,
No escuro do meu pensamento.
Não sei direito o que vive lá dentro,
Por entre os monstros infantis
E os pensamentos nela.

Quando a noite vem e eu deito para dormir,
Uma ilusão de cores permeia meu sono,
Em sonhos doces,
Nos quais eu despenco do alto de um prédio
Em uma panela de água fervente
Na minha casa da infância.

Queria ter uma faca,
Para matar meus pesadelos,
E enterrá-los bem fundo na minha mente,
Sob o peso das lembranças da vida no Rio de Janeiro.

Uma sincera declaração.

A Adriana Alves Santana

Há três dias encaro uma folha vazia,
Tentando escrever-te alguns versos.
Meus velhos versos já conhecidos,
Previsíveis,
Mas que sempre arrancam um sorriso de seu rosto.

Sei que estou em falta.
Não só por isso,
Mas por muito mais.
E é tão grande a falta que você me faz,
Que a saudade existente em mim,
Já se tornou parte
Da minha fraca arte
De poetizar.

É como se dentro de mim faltasse um pedaço,
Um grande pedaço de você.
E nesse vazio, apenas corre o ar que respiro,
Transformando-se em constantes suspiros,
Perdidos em qualquer lugar;
Em janelas de ônibus,
Molhadas de chuva
E embaçadas.

Traço esses versos como uma declaração,
Uma declaração de amor não-convencional.
E termino como a criança que sou
Com um versinho,
Apaixonado,
Bem pequenininho,
De duas palavras
Que se faz entender:
Amo você.

O cego

Dias atrás pelo centro
Eu vi um cego com traços cênicos.
Ele gritava coisas
Sobre o fim do mundo
E sobre o fim dos tempos.

Poucos ali o observavam,
Alguns parados
Com os olhos vidrados,
Prestando atenção
Em cada palavra
Que o cego gritava
Em seu desespero particular,
De olhos fechados
Com a boca trêmula
E as mãos que voavam por todos os lados.

O cego clamava para que o ouvissem,
Havia que simplesmente respondesse “não”.
Mas outros ali ficavam
Admirados e com dinheiro na mão.

Dinheiro que jogavam no chapéu do cego
Que ao ouvir o barulho de tanta moeda
Agradeceu em reverência,
Àqueles que o cercavam com veemência.

O cego era um poeta,
Anunciando a morte do mundo,
Em um dia de outono.
Sobre as folhas secas
Ao amanhecer.
Quando a Natureza comandará
Com sua revolta
O ataque final,
Tomando de volta
O que é seu.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Brincadeira entre olhares

De longe a vejo,
Meus olhos fogem dos seus,
Envergonhados.
Tento segurar um sorriso
Que quer pular de minha face
E pousar sobre você.

Fazemos um jogo,
Uma brincadeira entre olhares.
Seus olhos grandes me perseguem,
E me percorrem,
E me engolem!

Canto

A voz que ecoava em seu ouvido,
Hoje não está mais lá.
Aquele canto doce e macio
Que te acalentava nas noites frias
Já não se ouve mais.
E agora você espera,
Despida sobre a cama,
O canto que te fazia mulher.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Fantasia

(CHICO BUARQUE)

E se, de repente
A gente não sentisse
A dor que a gente finge
E sente
Se, de repente
A gente distraísse
O ferro do suplício
Ao som de uma canção
Então, eu te convidaria
Pra uma fantasia
Do meu violão
Canta, canta uma esperança
Canta, canta uma alegria
Canta mais
Revirando a noite
Revelando o dia
Noite e dia, noite e dia
Canta a canção do homem
Canta a canção da vida
Canta mais
Trabalhando a aterra
Entornando o vinho
Canta, canta, canta, canta
Canta a canção do gozo
Canta a canção da graça
Canta mais
Preparando a tinta
Enfeitando a praça
Canta, canta, canta, canta
Canta a canção de glória
Canta a santa melodia
Canta mais
Revirando a noite
Revirando o dia
Noite e dia, noite e dia

Quem sabe a canção de Chico me traga alguma inspiração nessa manhã que tentei me fazer por longos versos, mas que nem rimas pobres eu acertei.

Sono

A cama me convida sensualmente,
Não resisto e me jogo à ela.

Celeste

Celeste, Celeste, Celeste!
Diga o que queres,
Diga quem realmente és!
Oh! Querida Celeste,
Minha modernidade se vê ofuscada por seu arcaísmo.
Me ensine a rimar, minha querida.
E que os meus poemas sejam sonetos,
Alexandrinos!