domingo, 24 de março de 2013

Reservado

É como se afligido pelo medo
não te verso como devo;
eu quero que seja perfeito
cada traço que te escrevo.

E que seja simples
como o é o amor
que nutre em minhas veias
batucando o coração
nas noites de lua cheia
como o lobo da canção,
perseguindo-a na cama
e tateando o pouco espaço dos corpos espremidos
com a mão.

Inundação

quebrado em pedaços os enlaços
dos braços
como os versos dispersos
de um poema sem nexo

segue livre em seu rumo
o sumo do meu corpo
sobre o ventre exposto
ao meu puro deleite...

...e não minto quando digo que isto apraz o meu gosto.

Cagada de pombo

as palavras dos poemas voam longe como as penas das asas dos pombos
pousados nos fios
regados ao choque
e ao pouco de milho
que a velha maloca
coloca no prato
de tampa de lata
mordida de rato
e os enche a bucha
com a pouca pipoca
ainda não estourada
que em pouco tempo
já transformada
cairá sobre sua cabeça
como uma bela cagada.

Relógio de parede

há um relógio pendurado na parede da cozinha,
o tic-tac dos seus segundos parecem se demorar mais
do que o tic-tac dos segundos dos outros relógios normais.

é como se quisessem se estender num propósito anormal;
é certo que o sono leva a um piscar de olhos
que traz em cada um de si um sonho
e que o segundo
não é mais o mesmo
pois não mais nesse mundo
os sonhos se inundam
com o tic-tac do relógio
da parede da cozinha.

sexta-feira, 22 de março de 2013

The fim


um pequeno sopro,
o último suspiro
o derradeiro passeio
ao infinito.

carregando os maiores clichês em suas pálpebras
os olhos se fecham, desapercebidos
do bater à porta
em seu ritmo
de repeteco
do mesmo sonho
da noite anterior.

mas dessa vez não vem em sonho
o tribunal em que a morte julga
o mais medonho
e hediondo
dos crimes de deus.

eu fecho os olhos
pois tenho sono
e não mais regulo o pensamento
e não mais me mostro o mais afoito.

toco na mão dos anjos
que me observam
e me esperam.