quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Nas noites cinzentas


nas noites cinzentas
enevoadas por milhares de cigarros acesos,
as ruas se perdem
entre si

por dentro dos becos
crianças correm esvoaçadas
como se não existisse a fome que nos cerca
e sorriem ao me ver passar

em suas brincadeiras o bem sempre vence o mal;
sinto, então, que ali há a pureza
que tanto nos falta
e sorrio de volta

tantas luzes acesas
não são capazes de sobrepor a escuridão do ar
embebida pelo medo
do desconhecido
e do caso acontecido
noticiado pelos jornais.

não encontro em parte alguma de meu coração
qualquer que seja a sensação
capaz de me arrancar sorrisos em meio ao sono,
suspiros em madrugadas
e sonhos em tardes cansadas,
como o deitar ao lado seu,
o enlaçar de nossas pernas
bambas pelo fulgor exacerbado
do intenso amor extasiado
que dividimos diariamente.

Desktop


meus papéis,
não mais avulsos,
são digitais;
não mais se perdem os versos de meus poemas
por entre folhas rabiscadas de algum caderno velho,
hoje digito tudo o que sinto
e salvo no desktop.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Azul

o mar azul;
o iminente desasossego
com a ideia da possível
falta de emprego;
e o mar azul.

mar azul mar azul mar azul
navio de cruzeiro branco
mulher de bíquini amarelo
desaparecem nas ondas.

o sol queima
e marca,
mesmo a mim
no alto da calçada,
no meio da pista,
na condução.

guarda-sóis guardam os corpos
enquanto eu guardo-os numa folha de papel.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Direitos de um brasileiro


Todo brasileiro tem direito a um lugar embaixo de algum viaduto;
e enquanto nossos olhos voltam-se para as cores da televisão
mais uma família chega para seu dia de trabalho
num lixão;

mais uma criança morre nas ruas,
enquanto nossos problemas maiores
são os da ficção;

mais escolas são sucateadas,
enquanto há mais dinheiro pra festas
do que pra a educação;

e enquanto nossos olhos não abrem,
há lá fora um mundo selvagem
em que os personagens
somos eu e você.

você-poesia


Quis te escrever uma poesia
tão bela
quanto é você;
que sorrisse livre
e com alegres olhos,
que me fizessem perder  o equilíbrio
das palavras.

Quis te fazer uma ode,
sonetos decassílabos
com belíssimos versos
alexandrinos,
mas não pude ser formal,
pois minha admiração não tem forma;
é torta e descompassada
como o coração meu
que bate firme dentro do peito
a cada visão sua,
de sua boca carnuda
e de sua pele nua.

Não tenho a intenção de me estender
para não embolar as palavras
e não saber mais o que dizer;
tenho, apenas, o singelo deleite
e enorme prazer
de te ter
como pequena partícula
e enorme faísca
com o poder
de acender
todo o amor que tenho
por você.