segunda-feira, 30 de maio de 2011

Vende-se sorriso


Vendo-lhe à vista
uns poucos sorrisos
opacos,
estimulados
pela presença profícua,
de seu olhar
em algum lugar
perdido
rodando o quarto,
pensativo
com cada quadro de imagem capturada pela retina como fotografias repentinas.

Pequeno canto para um sorriso

Neste curto poema canto
todo encanto
de um sorriso teu
que fugiu
pelo canto da boca
e correu
até os meus olhos.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Um pouco de frio e saudade

Por mim
não sei mais
quem sou,

se sim,
faça-me
um favor,

passe-me o lençol,
pois esta noite
será de frio.

Ao espelho,
contra o ventilador,

à esmo,
solidão sem dor,

ventila o desejo
cortando as sílabas,

batendo no peito
saudade.

Cidade cinza

Quilômetros quadrados
de cinza e poeira.

Centro da cidade
de pura sujeira.

domingo, 15 de maio de 2011

Versos de presente

Que estes meus versos voem
e cruzem a cidade
até alcançarem teus ouvidos.

E que assim, então, você saiba
que é verdadeiro
cada verso que te escrevo
e cada uso que faço
de tua imagem
como fonte de inspiração
e de transpiração
em noites que me escondo sob os lençóis
com pouca luz
e uma folha de caderno.

Faça destes versos uma verdade,
a minha verdade,
eterna.
Leve-os junto ao peito
como a certeza
de meu amor.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Poema sem começo nem fim

São indiscritíveis
as sensações que invadem o meu ser
quando eu só tenho você
em meu pensamento.

Não posso controlar
essa vontade,
que me invade,
de te ter
a todo momento
junto à mim,
assim...
Como que em um uma história fictícia,
de um amor de cinema,
onde canções invadem o quarto
envolvendo os corpos,
fracos, desacordados,
cansados e enroscados
um ao outro,
entre pernas e braços,
mãos e cabelos.

Um brinde ao passado

Da Maria fumaça
nem o barulho ficou,
mas sobrou a imagem
dos vagões intermináveis
cortando o tempo
que não pensa em passar
em algum fim de semana.

Do apartamento no Rio,
cada espaço ainda é vivo.
As lembranças dos quadros,
os móveis,
as festas...
O coração
(o mesmo de hoje)
a bater infantil
com surpresas benvindas,
sempre com o mesmo perfume,
exalando no ar,
na casa inteira em cada canto
em cada conto que relembro
e conto.

Do passado ficou o passado,
nunca esquecido
sempre relembrado
em tardes de outono,
tristes como essa.

Tanto

São tantas fases,
tantas frases,
tantas partes
de um todo;
De um corpo
que quero meu.

Busca pela inspiração

Nos mais antigos papéis
caio à procura
sabe lá Deus do que;
De uma fórmula qualquer, talvez,
mas não encontro pista sequer
e ao invés de continuar
paro
com o peito escancarado
a libertar o coração,
solto, com todo cuidado,
para que possa buscar
na poeira dos velhos papéis
a inspiração que ficou para trás.

Rio saudade

É dia de bola,
de samba,
de sangue
esquentando sob o sol.

É domingo,
é Rio de Janeiro,
é saudade.

Explicação

Não penso muito,
apenas vivo.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Chuva silenciosa

O silêncio envolve a casa como uma bolha,
sem vozes,
sem passos,
sem vida.

A vida fica lá fora,
junto com o mundo
e suas iniquidades,
um outro mundo que não este,
pois neste reina o silêncio
e a morte em sua mais bela forma;
a solitária quietude.

Não há luz,
pois chove
e é tal chuva
que me envolve;
Silenciosa
e em pingos poucos.

Fuga matinal

Gloriosa manhã
de chuva mansa
e não tão fria.

Os olhos de maça
sinuosos
ao começar do dia.

Nada prometido para hoje
ou amanhã,
ou ao meio-dia.

Queria
só poder dormir
e ter a mente vazia.

Queria
apenas fugir
por qualquer via.

sábado, 7 de maio de 2011

Água que pinga na pia

Há um barulho de água que pinga na pia.
Há um
ba
ru
lho
que vem da cozinha.

A água pinga na pia,
sobre os pratos.
Uma sinfonia.

Há um barulho que não me deixa dormir,
não deixa o mundo dormir;
É água que pinga na pia,
insistentemente,
dia após dia.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Arte?

Eu, pouco talentoso,
me arrisco na arte
em parte.

Eu fervo

Eu fervo
nos espasmos contínuos
do bater dos corpos,
embolados,
amarrados
pelos fios dos cabelos
que se soltam pela cama
e pregam na pele.

Eu fervo
com as mãos que em mim passeiam
e com a boca que tanto anseio
junto ao ouvido
soltando suspiros,
soprando gemidos,
gritando!

Como são belos os gritos de prazer de uma mulher.
Quando invadem a casa inteira
e me invadem por inteiro.

Outono nublado

Cabeça largada à janela,
Frio que gela os olhos,
Vento furando a face
feito faca gélida.

Abstração das estrelas,
poucas, opacas,
ofuscadas por nuvens cinzas,
nuvens pesadas.

Céu escuro,
é maio.
Outono nublado.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Poema de uma noite

Grite em meu ouvido
loucuras de um fervor
nas veias
com sangue em ebulição,
quente
do toque em que te envolvo rente
ao corpo que ao teu corpo explora
o ventre.

Revire seus olhos
e suas órbitas
como as órbitas dos planetas
que lançam estrelas
cadentes,
às quais faço pedidos
e desejos,
de seus desejos
que realizo.

Rasgue-me a carne
e me engula
por inteiro
e me mate,
pois só morto
minhas mãos
não estarão em você.

Por fim, crave suas unhas em minhas costas,
crave suas pernas nas minhas,
crave o seu corpo em meus braços
me brindando com sua forma mais pura de prazer,
para que nossos corpos,
enroscados,
vejam mais um dia nascer.

domingo, 1 de maio de 2011

A aranha e a formiga

sobre o tapete espreita a aranha
as formigas que passam no chão
e não enxergam o perigo que as ronda

a aranha quieta observa
o trabalho árduo das formigas
carregando migalhas de pão
seguindo o caminho em fila

quase a dedo a aranha escolhe
sua vítima dessa noite;
a formiga mais lenta é a que sofre
o bote certeiro em um pulo

Chuva (aqui e lá)

O frio bate à janela
Na forma de gotas de chuva
Jogadas ao vento
Que sopra forte,
Molhando o pátio do fundo do prédio,
Escuro esguio e frio
Como parte do rio
Que leva a água corrente
Pelos batentes... Até a rua,
Seguindo o curso perene,
Da sarjeta suja
De plástico copos e corpos
(de bichos mortos)
Misturados aos resíduos afogados
E entupidos.

E eu, de dentro da minha janela,
Apenas vejo o frio chegar,
Enrolado no manto quente das portas fechadas e teto branco com luzes acesas, tinta e papel.

E essa mesma água que aqui bate,
Mais além invade
As ruas, os becos, as casas, as vidas, os corpos (agora de gente) que tentam fugir do barranco, da enconta, da enchente.

Jornal do dia

Nota de rodapé

Algum João encontrado morto,
Na beira do córrego,
Na Suburbana.
Marcas de tiro,
Sinais de tortura;

Manchetes

Casamento desfeito,
Casal de artistas,
Sem filhos,
Apenas três meses de relacionamento.

Classificados

Compra-se mentes
E almas
Para serem salvas
E convertidas à alguma religião.

Hora de dormir

O corpo frio, acomodado,
já sobre a cama;
Não mais pensa em banho,
em água;
Apenas em pijamas
e sonhos
risonhos
sob os lençóis.