sábado, 28 de novembro de 2009

Ainda é cedo














Apague as luzes ou esfrie o sol.
Ainda é cedo para guiarmo-nos pelo farol.
Ainda é cedo para fugir,
ainda é cedo para fingir.

Vamos até onde está o tesouro,
onde o grito angustiado se faz ouvir.
Precisamos de uma pá para desenterrar o ouro,
ou de um mapa para saber aonde ir.

As lembranças não se fizeram em sonhos,
foram levadas de nossas mente e lavadas de nossos corações.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Viagem diária

Tenho manias. Sempre sento no mesmo lugar no ônibus todos os dias, na quarta fileira, na janela do lado direito, atrás de um banco com “pato” escrito. Hoje foi diferente, alguém havia sentado em meu lugar. Tudo mudou. Aquele lugar é meu. Sentei no outro lado, não é a mesma coisa. Não vi o que sempre vejo. Nesse lado não vi o 3º milênio, nem o Morada do Sol, não vi a menina do banco de madeira. Ah! Os olhos da menina.

Não aguentava, não consegui ler, não consegui prestar atenção na viagem. Só queria o meu lugar. Esse lugar não tinha a mesma energia, não tinha a minha marca. Olhava aquela pessoa que ousou roubar-me o lugar. Não poderia perder o lugar para ela. E se resolvesse pegar o ônibus sempre e sempre sentar no mesmo lugar. Alguns rostos se repetem diariamente, é uma espécie de jogo, os lugares são quase que reservados. Hoje o jogo não deu certo, percebiam minha angústia, estava alterado o traçado de sempre.

Terminei minha viagem e meu lugar estava profanado! E ainda perderia o que de mim há nele. O sujeito ainda roubaria um pouco de minha essência.

Salvador se levanta

Bom, começando devagar, tentando chegar a algum lugar, sem rumo ou direção.

Salvador se levanta com o sol da manhã, e quanto sol tem feito esses dias, procuro uma nuvem no céu, não acho uma sequer.

Mania chata dos que sempre propõe ir à praia, lugar de exibição de músculos e formar, como não disponho de nenhum recuso educadamente os pedidos, prefiro um lugar onde não precise tirar a roupa, não me entendam mal, eu gosto de tirar a roupa.

Salovador se levanta e devagar vai se fazendo por entre as ruas, avenidas e casas. Pessoas saem, pegam seus ônibus, vão para o trabalho, vão estudar, vão viver. Viver é bom. Salvador te deixa viver, naquele tempo que sobra após as longas viagens de ônibus. Mas te deixa viver, proporciona situações que fazem-nos pensar no nosso lugar no mundo. Estamos mesmo vivendo?

Ainda a amo

Pensei que a tivesse esquecido,
mas a certeza que havia nesse pensamento desapareceu junto com o seu esquecimento.

Há alguns dias não a via,
situação que ajudou a concretizar o pensamento mentiroso.
Nunca acredite em sua mente.

Hoje a vi.
Sabe o que aconteceu?
o coração acelerou,
a pulsação aumentou.
Percebi que ainda a amo.

Representação

Sob o céu de lua nova,

A idéia do ser e do estar,

Num mundo que muito me exclui,

Volta a ser o que me possui.

Com a música longe como plano de fundo,

E o ranger da porta que se mexe,

E o som do cadeado que se tranca

No portão que se fecha,

Questiono qual o meu papel nessa encenação.

Em todos os momentos represento.

Sou o cara mau,

O carinhoso,

O louco,

O destemido,

O depressivo.

Do que vale essas representações?

Sou muito pequeno frente à imensidão do imaginável.

Disso não tenho medo, respeito o universo.

O que me receia é o inimaginável.

Sou eu um produto,

Um cego surdo e mudo.

Sou só um meio para um fim!

O ponto final,

O último suspiro.

Desejo ser a morte,

Ter o poder da vida!

Desejo eu ser Deus?

Ser morto nas línguas alheias,

Ser objeto de cegueira,

Ser irrefutável,

Desejo ser onipresente, onipotente e onisciente!

Desejo o que todos desejam,

Sou eu mais um apenas.

Meus pensamentos não diferem do da maioria,

Não peso na balança.

Não é para mim que o sol brilha,

Não é para mim que nasce o dia.

Afasia temporal

Monossilabicamente ensaio um oi,
minha falta de vocabulário se dá por uma ansiedade normal,
ou uma afasia temporal.

A fala não me vem.
Vou então atrás de algo onde escrever.
Vejo uma folha em branco, crua, nua.
A visto com minhas palavras,
a cubro com o manto literário.

Entrego essa folha a um amigo,
nela está tudo o que quero dizer.
Estão expressos meus sentimentos ou lamentos.

A janela



A janela do terceiro andar,
reflete a luz do luar,
e o ar de boas vindas,
trazido de outro lugar.

Deixe essa janela aberta,
para passar por ela os pensamentos,
que vão além do horizonte,
até voltarem pra cá.

A janela mostra o reflexo da alma,
o desconexo imantado,
um complexo vitamínico,
uma mistura dos sexos,
a união desses versos.


Foi à janela que vi aquele pôr do sol,
no céu as cores mais belas do que qualquer quadro já pintado.
Debruçado com os braços sobre ela, me sentia seguro.

Foi à janela que passei muitas tardes,
observando a rotina cotidiana dos que não me viam,
observando o ir e vir dos que passavam.

Nas noites de insônia ali fiz o meu refúgio,
criei um mundo que podia viver em paz.
Em volta de mim a janela era um escudo protetor,
protegia das angústias e da dor.
Foi à janela que conheci o meu amor.

Superestima

Estarei eu me superestimando no momento em que acho que o que escrevo pode ser considerado poesia, quem julga tal coisa?

Os julgamentos que uso como base são os meus próprios, pois acho que ninguém melhor do que eu para julgar o que eu faço, e os de todos aos que mostro o fruto dos meus escritos.

Tenho noção de que há uma indústria da arte, que corroba o que é ou o que não é arte, o que se encaixa ou não nesse patamar. Mais forte que a Literatura em si, é a indústria dos críticos, que a fomenta. São eles que guiarão nossos olhares para o que é “bom”. Medo eu sinto ao pensar que tudo o que me fez perder o sono, tudo o que me fez refletir, todas as minhas linhas, rimas e palavras não terão valor bruto para a sociedade. Mas ainda sinto aquele ar de esperança ao saber que apesar disso tudo, ainda existem aqueles que verão beleza no que escrevo.

Qual o intuito desse blog?

Tenho por vontade própria, o desejo de ter um lugar onde posso expor meus pensamentos e/ou coisas que me interessam.

Não me preocupo com visualizações, seguidores, discípulos, apóstolos e etc. Apenas quero o que de mais simples há, falar.