segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Morte do poeta

Versos que não serão lidos
Versos que não serão ouvidos
Versos que não fazem a mínima diferença...

Quem sabe se eu desligar a tecla "poeta" do meu ser...
Ah! Não faria a mínima diferença da mesma forma.

Podem rir do fato de eu me chamar poeta.
Que ultraje, não é?

Quem sou eu para me considerar tal coisa?
Quem sou eu para me considerar qualquer coisa?

Vocês que me leem agora (se realmente alguém ler) podem rolar de rir,
Ou chorar, façam o que for melhor,
Com minha total incapacidade de ser alguém que um dia eu quis ser.

Quis ser poeta,
Ainda quero
E sempre irei querer.
Mas o sonho,
Aquele sonho de uma vida toda,
Acabou.

Sorriso de falsa felicidade

Novos jogos de luz
E novas fotos
Nos sorrisos velhos
Sempre escondidos
Temerosos dos flashes,
E muitas vezes forçados
Para tentar suprir uma necessidade
De ser feliz
Aos olhos dos outros.

Delírio

Derrames de copo pelo caminho,
Levo junto à mim
Um copo de vinho,
Tinto e suave
Como o sangue
Que circula por todo o corpo,
Até o coração,
O qual já é seu,
Por isso o entrego
Em cada verso de poesia
No olhar de todo dia,
Nos gestos...
E eu confesso,
O amor que sinto é belo,
Como o nascer de uma flor
Num descampado árido do Nordeste
E é belo!
Como todos seus sorrisos,
E mais belo ainda
Que qualquer poema-sujo que eu possa te fazer.

Ah! Os fortes! Tão cheios de si

Medo eu tenho,
Invejo os fortes
Cheios de si.
Homens de verdade,
Especiais eu diria.
Louco escolhi ser,
Eu, ser-cheio-de-amor.

Mais uma tarde

Ecoam pela casa
Uns gemidos altos
Delirantes
De olhos revirados
E suspiros ofegantes
Enquanto corpos nus
Envolvidos em só um
Derramam suor
E espalham carícias
Fortes,
De unhas cravadas
E mãos apertadas.

Mesmice

O mesmo colchão de solteiro,
O mesmo travesseiro,
A mesma fronha
               colcha
               forma
               cama.

Os mesmos braços enroscados,
Os mesmos beijos,
As mesmas mãos
                  carícias
                  pernas
                  bundas.

O mesmo calor,
O mesmo ardor
A mesma estante de livros
               caixa vazia
               cesta de roupas
               garrafa de água.

Os mesmos olhos vidrados,
Os mesmos corpos suados,
As mesmas declarações
                  incitações
                  frases prontas
                  promessas eternas.

Salvador

Não há verde,
Só o cinza
Da contrução
Do avanço
Da globalização.

Não há mar,
Pelo menos não belo
Como já o foi.

Não há ar puro
Para se respirar,
Apenas a fumaça preta
Dos milhões de carros
Que derivam à mercê
Engarrafados
Apreensivos com qualquer chuva.

Não há mais sorrisos,
Há pouca alegria,
Só se vê o medo,
A pressa,
A agonia
Só de se estar na rua
Num frenesi de correria
De relógios atrasados
Em todos os dias.

No seu interior, eu morro

Deixe-me ser os mortos
Afogados no mar
De seu corpo
Invadido pelo ávido olhar
Que te miro
A cada gozar
E a cada tiro
(Em ti atiro)
E te acerto
Com balas de carne
E osso
Pelo bom gosto
De estar certo
Quando escolho
O seu corpo
Para morrer.

E pela morte
É vinda vida.

Sou

Sou menino bobo
Sou macaco velho
Sou velho rabugento
Sou homem calmo
Sou infantil
Sou teimoso
Sou boemio
Sou amante
Sou amado
Sou apaixonado
Sou Deus
Sou animal
Sou água
Sou erva
Sou fogo
Sou nada,
Mas não sou eu.
Sou dentre tudo
O Marcio Costa,
Mas quem se importa?
E quem é esse Marcio Costa
Que vou escondendo
Em alguns versos
Que nunca serão lidos?
E se algum dia
Arrancar algum sorriso
Não fará mais diferença,
Pois toda a crença
Que um dia nutri
Deixou de existir.

Insônia

O corpo não dorme
Nem está desperto,
Os olhos se fecham,
Mas não se apagam.
A mente está calma,
Ainda funcionando
E as pernas balançam
Desritmando o corpo da alma.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Compasso

Mais um passo
Descompasso
Que eu passo
O compasso
No malandro
Que esperto
Diz que é bamba
Mas não canta
O velho samba
Como cantava
O Noel

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Calor

Lá fora
Um calor
Pecaminoso

São tantas pernas
E barrigas
Que refrescam-se
À mostra
Aos olhos nossos

E nem o diabo
Pode dar conta
De tantos pecados
À solta

Roupa de defunto

Eterno
Terno
Último

O amor é uma doença

O amor é uma doença
Que não tem cura

É uma enfermidade
Que só é boa quando dura

Não há tratamento
Ou remédios

Nem hospitais
Ou médicos

Capazes de dizer
Se um dia passarão

Os sintomas que a tornam
Um mal ao coração

Estou doente,
Estou amando.

Fim dos sonhos

O que deveria ser feito
Está feito!
E a dor invadindo o peito
Grita junto
Chora mudo
Sem lágrimas
E o leva aos céus,
Às fadas!
Que o envolve
Em suas asas
Tornando seus sonhos
Pensamentos mortos
Como penitência
De uma vida sem amores

Dia

Não deixe que o vento
Cortando as folhas
Da mangueira
A distraia do passatempo
De ser minha

Sente-se e
Me conte
Do seu dia

Fruta podre

A feira
A pêra
A perca
A fruta peca
Na geladeira
Já preta

Tento

Tento
Mesmo descontente
Me contentar
Com algum consentimento
De algum Deus.

Poesia-magica

Encaro a folha em branco
Esperando que as palavras surjam
E a poesia se forme

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Rostos passados

Afogados no mar de lama
Do esquecimento
Habitam os nomes
Dos rostos
Passados.

Por - Lat, Lat - Por

Lux - luz
Alter - outro
Crucis - cruz
Necro - morto

Olhos que me engolem

Negros desenhados
Seus olhos me encaram
E simplesmente me fogem as palavras
Enquanto eu paro hipnotizado
Tentando buscar na conversa dos vizinhos
No avião que passa baixo
Ou no que falam na televisão
Algo que eu possa dizer,
Mas eles ali,
Parados
Apenas no ofício de me olhar
Agarram-se à mim
Sugando com força colossal
Meu corpo todo
Minha vida inteira
Para dentro deles.

Crença

De pedra
Em pedra
Eu miro
E atiro
Nas cruzes
Cegando
Os olhos
Dos homens
Que vivem
Em crença
Mas não vivem
De verdade.