sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O que já era de se esperar

Preso no sofá,
A televisão está desligada
Esperando dar o horário do programa preferido.
Vendo as sombras que passam nas paredes,
Imaginando diálogos entre elas,
Criando amizades através delas,
Amando quem não existe agora,
Levantando a mão
E pedindo esmola
Pronto para ir embora,
Sem saber que quem me espera lá fora
Trouxe-me um copo de cachaça,
Uma camisinha usada
E todo o amor que pode sentir
Junto com um cigarro que iremos dividir
Depois do êxtase numa cama de solteiro,
Numa casa sem chuveiro,
Quente, suja, mas que serve para mim.

De todos os livros que exibo na estante,
Mais da metade são apenas um toque estético para quem quiser olhar,
Gosto é mesmo de romance,
Daqueles mais fajutos,
E fico puto se alguém vem tentar me consertar
Dizendo o que é o certo,
O que eu deveria ler ou escutar.

Agora sento aqui sozinho
À espera de alguém que venha me resgatar.
Sinto falta de uma voz em meu ouvido
Dizendo que sempre vai me amar.
Olho então para cima
Esperando que o céu me jogue uma pedra na cabeça,
Pois assim acabará com todo esse sofrimento
E rapidamente fará com que o mundo todo se esqueça
Do que aconteceu aqui,
Do menino que andando na rua desapareceu
Consumido por uma luz que diziam ser de Deus.

Toda noite penso
Que poderia estar aqui alguém que eu possa abraçar,
Lembro então dos velhos dias
Quando eu era querido
E não faltava ninguém nesse lugar.
Lembro de quando não dormia só,
Das noites regadas a cigarros, alcool
E o seu maldito pó.
Dos muitos que aqui passavam
E que não os conhecíamos,
Mas sempre os arranjávamos um espaço pra ficar.

Gravei algumas vezes sua risada
E de vez em quando as ouço baixo como se ainda risse para mim.
Assim eu rio junto infantil,
Choro lágrimas alegres
De uma tristeza que nunca antes se viu.
Corro então ladeira abaixo,
Grito alto,
Voo baixo
Para tentar te encontrar.

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