sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Viagem diária

Tenho manias. Sempre sento no mesmo lugar no ônibus todos os dias, na quarta fileira, na janela do lado direito, atrás de um banco com “pato” escrito. Hoje foi diferente, alguém havia sentado em meu lugar. Tudo mudou. Aquele lugar é meu. Sentei no outro lado, não é a mesma coisa. Não vi o que sempre vejo. Nesse lado não vi o 3º milênio, nem o Morada do Sol, não vi a menina do banco de madeira. Ah! Os olhos da menina.

Não aguentava, não consegui ler, não consegui prestar atenção na viagem. Só queria o meu lugar. Esse lugar não tinha a mesma energia, não tinha a minha marca. Olhava aquela pessoa que ousou roubar-me o lugar. Não poderia perder o lugar para ela. E se resolvesse pegar o ônibus sempre e sempre sentar no mesmo lugar. Alguns rostos se repetem diariamente, é uma espécie de jogo, os lugares são quase que reservados. Hoje o jogo não deu certo, percebiam minha angústia, estava alterado o traçado de sempre.

Terminei minha viagem e meu lugar estava profanado! E ainda perderia o que de mim há nele. O sujeito ainda roubaria um pouco de minha essência.

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