sábado, 26 de junho de 2010

Numerais

Por duzentas e quinze vezes eu ameacei beijar teu pescoço durante o abraço longo. Você pela segunda vez tentou se soltar, mas um magnetismo louco te colava a mim. Eu não sei o que houve com o mundo lá fora - a sirene irritante da ambulância diminuiu o volume e as crianças pararam de tagarelar. Nenhuma voz. Apenas eu te dizia em silêncio o catálogo de sensações que você me provocava. Te apertei com uma intensidade maior, enquanto me alongava para o abraço encaixar perfeitamente. Ali - a partir da minha respiração ofegante em teu pescoço e meu coração louco pulando agora em teu peito - notei meu nervosismo. Tremi ligeiramente com a brisa gelada que acabou por levar cabelo à minha boca. Você acariciou meu rosto com delicadeza, ainda me recordo. Se havia ainda algum centímetro separando nossos corpos, você o preencheu nesse momento, com um novo enlaçar da minha cintura.

Tudo durou aproximadamente seis segundo: o tempo que você levou para ver seu ônibus ali parado. Se despediu já de costas. Não deu nem tempo de ver meu sorriso desapontado, de menina que vai chegar em casa e se lamentar por não ter beijado seu pescoço em nenhuma das duzentas e quinze aspirações.

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