domingo, 17 de janeiro de 2010

Um homem que bebia

Cambaleva sorridente,
era o melhor amigo de Deus e do mundo,
seu nome ninguém sabia,
aparecia nas noites,
ninguém sabia o que fazia durante o dia.

Era um homem de coração bom,
cismava em apertar minha mão.
Eu era apenas uma criança,
tinha medo de bebida,
meu pai dizia que ele não tinha família,
era um solitário.

Poucas vezes o vi sóbrio,
ele não me reconhecia,
ou tinha vergonha daquele estado em que constantemente ficava,
passava direto,
eu o chamava,
ele olhava e respondia como a um desconhecido.

Por muitos anos o vi perambulando pelas ruas,
a Boca do Rio inteira era sua casa,
fui crescendo,
chegou a adolescência e o homem ainda por ali,
com sua felicidade engarrafada.

Cheguei a juventude,
ele sempre que me via comentava sobre eu ter crescido,
perguntava pelos estudos,
cumprimentava meu pai,
e seguia seu caminho.

De repente o homem sumiu,
por tempos não o vi,
perguntava quem o tinha visto ultimamente,
ninguém poderia saber,
ele não tinha ninguém.

Por vezes me lembrava dele,
quando passava por algumas ruas que era certo encontrá-lo,
o homem deixou uma vaga lembrança,
que foi-se diminuindo até um esquecimento profundo.

Hoje vi um homem cambaleando sorridente,
não pude não recordar dele.

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