sábado, 30 de abril de 2011

Descartável

Não me conheça,
Deixe que meus cigarros,
Por meus óculos,
Me descreva

Deixe que minha tosse
Em meu afago
Se desgaste
E gaste o tempo necessário
Para que eu possa, enfim,
Morrer

Deixe que as luzes se apaguem;
E o vento,
Em fúria de tornados;
Deixe-o entrar pelas janelas

Trazendo o gosto da chuva fina.
Polpa da vida derramada sobre mim.
Eu que sou fruta podre na prateleira
À espera de que me joguem fora.

Morena

Corpo
cor
morena

terça-feira, 26 de abril de 2011

Noite de abril

céu sem estrelas
em noite de abril,
céu que hoje abriu,
com sonhos
de fantasias
escondidas,
as portas de seus olhos
engolindo meus sentidos.

domingo, 24 de abril de 2011

com você, por você, para você

sua boca,
colada em meu
ouvido
baixinho contando
segredos profundos
de profundos desejos,

me leva a um estado de delírio

um estado de profundo delírio
perdendo
o rumo
do pensa-
-mento.

com seus olhos
nos meus,
como lagoas de águas escuras,
o fim perde seu fim
e o tempo para.

Fim de tarde a ver o mar

Só me falta o mar pra completar.
E o que depois virá
será
só recompensa

lavada da chuva
fina de fim de tarde
quase noite,
sem nenhum alarde.
Só vento frio.

Datado

Domingo, 24 de abril.
Páscoa 2011,
Tarde morta (São Rafael, Salvador - Bahia)
Casa fechada
Fumaça,
Televisão desligada
Sofá branco
Caneta azul
Poemas mortos
Em versos tortos,
Pouco calor
E rimas pobres.

Imagem ao espelho

Há uns olhos vermelhos
Que me encaram no espelho
Delineando meu contorno
Fotografando cada parte de meu corpo,
Deste corpo
Que também é o seu,
Assim como seus olhos meus
Me veem por dentro,
Lendo minha alma
E roubando meus pensamentos
Por cada palavra.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Reflexões acerca do meu ser-poético

Metáforas não me satisfazem
Gosto que sejam concretas as imagens,
Como são ao tato
Ou a visão (vide uma paisagem)

Gosto do objeto cru
E dou-lhe formas nos poemas
Com a originalidade
De uma ideologia que reproduzo

Prepotência vasta me invade
No calor da falta de humildade
Quando digo que, o que digo é valioso
E quando digo que, o que faço vale ouro.

Morena minha

Incondicionalmente
se acelera o bater do coração
num batuque de samba canção
sobre uma morena
que como a minha
é mais que linda;
é perfeição!

Palavras cortadas entre beijos

Cortadas;
pa
    la
       vras
entre beijos

terça-feira, 19 de abril de 2011

Luz artificial

Há luz que vem da rua,
Não das estrelas
E nem da lua.
É luz das lâmpadas dos postes
E das varandas acesas,
Nos altos andares.

Insone

Sombras abstratas dançam na parede à meu lado
Enquanto eu, insone,
Em uma tentativa frustrada, tento dançar. Coitado
de mim,
Deitado aqui.
O corpo segue com o mínimo de vida necessário,
Meio sem acordar,
Meio sem dormir.

Ideia perdida em viagem de ônibus

predomina
     dentro
     da mente

saber que não
se
sente

de voo
      longo,
     por rente

ao chão
do asfalto
quente

domingo, 10 de abril de 2011

Meu maldizer

Atônito
Atômico
Partícula
De átomo
Eu sou

Não sou do tipo admirado;
Daqueles que são olhados,
Notados...

Sou mesmo um maldizer
Na vida dos outros

Uma maldição fez de mim
Adorador das palavras;
Escritas apenas,
Pois prefiro manter a boca fechada

Nem lá nem cá

É quente,
Já choveu;
E em algum lugar morreu algum homem
Que dizia ser Deus.

Entrando pelo quarto
Um som de canção sem importância,
Pois não traz sua voz,
Não me leva à sua foz,
Ao seu âmago,
Ao seu antro de perdição,
Ao seu – rima pobre a seguir - coração

Sono ébrio

Ébrio

O corpo

Deitado

(e largado)

À meu lado

Esgueira

Espaço

Sobre mim

Poeta uma ova

Poeta uma ova!
Sou um tradutor;
Traduzo tudo o que vejo em versos,
Apenas isso.

Trago para o papel
A pouca tinta de uma caneta velha;
Esguio pelas beiradas, marginal.
Homem que sou, tão pouco, comum,
Entrego em bandejas sentido nenhum.

Deixo que meu pensamento voe
E repouse
Em um colo qualquer,
Junto com estes versos,
Sinuosos feito curvas de mulher

O grilo

Um repetido “cri cri cri”
Ecoa no escuro do fundo da casa
E repentinamente, sem sentir
O acompanho com a mente desritmada

Emerge de um canto
Seu canto
De bicho
De espanto
Sorrateiro
Que atinge
Certeiro
O ouvido do homem que dorme acordado sonhando alguns sonhos que não lembrará mais quando acordar

Canto de passarinho

Derradeiro fim do mundo
Jornais anunciando o apocalipse
Apologia ao nada
Um Deus de face fechada
Livros queimados,
Fogueiras e condenados
E no fundo
O canto de um passarinho
Engaiolado,
Amarelo;
Não sei o nome,
Mas sei que é belo.

Apenas chuva

Cada pingo de chuva traz uma melodia diferente
Formando uma sinfonia de gotas
Não-esgotadas
Numa noite inteira
De uma vida inteira
Sem eira
Nem beira(mar)

(des)construção

Movimento inverso

Retrocesso do corpo

Retorcido no dorso

Da comunicação

Distorcida na linguagem

(re)cortada

E posta em disposição

Não correta,

Concreta,

(des)concertada

só mente

S      eu

O     eu

M     eu

domingo, 3 de abril de 2011

Pichação

Passei pela frente de um muro
Escrito,
Riscado,
Pichado,
Poético.

Sem sentido

Olhe no fundo de meus olhos
E com isso, paralise
Todos meus sentidos.