Um jornal de hoje, por favor.
Veja só, não entendo esse negócio de dólar,
Um dia sobe,
No outro desce,
Dizem que influencia a nossa economia,
Mas sempre vejo tudo mais caro no mercado,
Seja na alta ou na baixa desse dólar.
Essa parte de economia eu nem leio,
Vai para ficar no canto,
Na cama do cachorro.
Classificados...
Gosto de ver os preços das casas que nunca terei.
Esporte...
Se me perguntarem a escalação do meu time,
Não sei se acerto nem quem é o técnico.
O mundo anda mesmo perigoso, não?
Mais atentados,
Carros bomba,
Exércitos invasores,
Assassinatos...
Enfim, essa parte guardo para mais tarde.
Ei, me vê aquela revista ali.
A capa me parece interessante,
Fala sobre o assassinato do cartunista,
O daime.
Sabe que depois disso tudo me deu uma tremenda vontade de tomar esse daime?
Acho que não só em mim.
Não, não vou levar,
Vou dar uma olhada aqui mesmo.
Uma folheada, leitura dinâmica,
Uma olhada nas figuras,
Pronto!
Olhem aquelas crianças,
Mais ou menos doze anos,
Tentando comprar a mais nova playboy,
E um maço de cigarros,
Que provavelmente fumarão dois,
Não aguentarão e o resto vai para o lixo.
Falar em cigarro, tenho poucos.
Me vê uma carteira de Carlton, seu Raimundo.
E um isqueiro que o meu eu perdi,
Ou roubaram, não sei.
Aquela noitada de ontem acabou comigo.
Se incomoda d'eu fumar?
Ah! As palavras cruzadas!
Resolvo umas três que já estavam na cara e guardo o jornal.
Essa fumaça,
Esse outono,
Esse clima frio,
Essa Nova York dos anos 20,
Essa minha mente poluída por pensamentos eróticos com as moças de minissaia,
E pela fumaça do ar frio do outono.
Lembro que preciso passar na farmácia,
Acabou o descongestionante
E com esse tempo o nariz teme em falhar a noite.
E essa copa do mundo?
Será que o Brasil ganha, seu Raimundo?
Uma torrencial de pensamentos futebolísticos,
Dos quais entendo pouco mais de um terço,
É jogada sobre mim.
Táticas, escalações, formações, substitutos...
Ouça a tudo,
Pensando em nada.
Volto o pensamento as moças de minissaias,
Volto o pensamento a farmácia que logo fechará,
E ao trem que terei de pegar,
A essa hora não mais tão cheio,
Certeza de que sentarei,
Ao lado de um estranho qualquer,
Que não me interessará da onde vem e para onde vai.
Antes de ir pego o guia da TV,
Procuro entre os canais algo que seja útil assistir,
Alguns filmes repetidos,
Programas aleatórios sobre assuntos não tão interessantes,
É, acho que a TV só me servirá como fonte de luz essa noite.
Tomarei uma sopa,
Depois um café,
Um cigarro,
Farei as palavras cruzadas e dormirei por sobre o jornal.
Olho para o relógio,
Dou um rápido adeus a seu Raimundo
E desço correndo a escadaria do plataforma,
Em pouco virá o trem para casa.
Tava lendo o blog, mas não queria comentar porque os textos já passaram, e a idéia é comentar os atuais rsrs.
ResponderExcluirBom, acho maneiro esse texto mais longo, quase uma crônica. Seu Raimundo é um sábio, mesmo falando muito pouco quase nada
Comentar coisas antigas é legal também!^^
ResponderExcluirEu adoro quase todos os textos do Marcio mesmo!